Muros caem, cortinas sobem...

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Hoje faz 30 anos que o Muro de Berlim caiu, marcando o fim da divisão da Alemanha entre ocidental e oriental. A queda do muro é o marco mais importante do fim da guerra fria e da falência do conceito de comunismo como regime viável de governo, embora ainda exista em alguns países até hoje, provou-se ineficiente pela natureza corrupta do homem.

Muro, parede, muralha, todas essas palavras tem significado forte no imaginário humano, seja no sentido literal ou abstrato. A matéria prima pode variar: concreto, pedra, tijolo nos muros literais. Existem, porém, muros feitos de materiais abstratos: ideias e conceitos que podem ser mais fortes do que material sólido.

Em 9 de novembro de 1989 o muro de Berlim caiu e com ele caiu um conceito: a ideia de que muros de concreto podem ser mais fortes do que muros ideológicos.

Os muros tem dado lugar a cortinas de fumaça na forma de excesso de informação do pior tipo: incipiente, diluída, contaminada. Destinada ao entretenimento barato de tal maneira a tornar nossas mentes preguiçosas. Nessa cortina a linguagem deve ser simples, pouco exigente em construção gramatical, aberta a neologismos, gírias e contrações, com menos texto, mais imagen e som (afinal de contas, ler requer algum esforço).

Cumprimos nossas jornadas de trabalho e voltamos para casa ávidos por nossos serviços de streaming, séries intermináveis, cada uma nos consome centenas de horas em doses homeopáticas ou maciças nas maratonas (ironicamente essa palavra que costumava a significar atividade física de alta performance) muito pouco nos acrescenta algum aprimoramento cultural ou intelectual.

Dedicamos um tempo considerável em conferir o que nossos amigos, conhecidos ou meros estranhos postam ou replicam em redes sociais. Nos descobrimos habilidosos em criar identidades falsas, estereótipos pasteurizados e agradáveis. Com um clique avalizamos o que nos parece agradável ou faz sentido, nos arriscamos produzindo nossos próprios conteúdos que já nascem contaminados e pré-formatados

E assim nosso foco se torna difuso, nossa atenção pulverizada. Somos gado, de carne macia, saborosa, presa fácil para os predadores ideológicos.

Até que consigamos enfim como sociedade, rasgar essa cortina deletéria, continuaremos pensando ser capazes de derrubar muros como o de Berlim, enquanto vivemos presos em nossa autoindulgência.