Guillermo Del Toro tem um longo currículo de criações e recriações de figuras que conseguem ser assustadoras por fora, porém belíssimas em gentileza, docilidade e anseios singelos como paz e aceitação.
A velha fórmula com fotografia gótica, diálogos inteligentes, ritmo de roteiro suave, sem ser cansativo se renova de forma engenhosa nesse lançamento.
Guillermo prova mais uma vez que a alma de um bom filme começa no roteiro e assim coisas como, fotografia, direção, trilha sonora e efeitos especiais cumprem seu papel de enriquecer uma boa história como deveria ser mesmo quando se fala de cinema.
A história que todos já conhecemos: nos anos 1.800, em meio a revolução industrial que produziu mudanças tecnológicas aceleradas, a humanidade tomada por uma euforia antropocêntrica, dividiu-se entre aqueles que temiam a mudança e se agarravam a fé e a classe científica que extrapolava suas ideias de controlar a natureza (neste caso e vida e a morte) com fenômenos recém descobertos como as correntes galvânicas e a radiação nuclear.
Victor Frankestein, um médico de família nobre da Áustria persegue de forma obstinada e imprudente materialização de sua teoria: criar vida usando pedaços de cadáveres, montando assim um novo homem e inundando-o com uma descarga elétrica.
Victor está num beco sem saída quando surge um bem feitor, com recursos ilimitados para financia-lo: Heinrich Harlander, um rico fabricante de armas interpretado de forma sempre brilhante por Christoph Waltz (o nazista caçador de judeus de Bastardos Inglórios).
Dell Toro faz mudanças sutis na história original de Mary Shelley, para viabilizar o arco narrativo sem contudo, descaracterizar a essencia do romance escrito no século XIX. Esse cuidado oferece um ponto positivo a mais para um lançamento, em meio a tantos fiascos de criatividade e roteiro mergulhados numa calda açucarada de CGI e referencias pop desbotadas que tem sido oferecidas nas salas de cinema e streamings.
Frankestein de Guillermo Dell Toro vai acabar sendo colocado na prateleira de filmes classificados como terror/ficção, contudo o tema principal do filme, de fato é humanidade, preconceito, aceitação e o alto preço que resulta da falta de respeito do homem pelos linhas tênues que Deus traça entre o ser humano e as leis da natureza.










