Está aí, diante de nossos olhos! Nos últimos dias tem sido difícil de ignorar a moléstia que tem atingido índices cada vez mais altos e que também, acomete o cristão!
Assim como a obesidade, diabetes, doenças cardíacas ou câncer, os chamados transtornos de ânimo têm se tornado cada vez mais comuns na população de uma maneira geral e no meio dos crentes a situação também é preocupante.
Andrew Solomon, em seu livro: O demônio do meio dia - Uma anatomia da depressão, aborda os mais diversos aspectos da questão: desde a neuro química e os medicamentos, passando por visões sociais através do tempo, a respeito da depressão. Solomon explica através de metáforas muito bem construídas um problema que ele mesmo sofreu na pele por toda a vida.
Em dada altura o escritor apresenta uma das explicações mais aceitas sobre o aumento dos casos: O ser humano simplesmente não teve tempo de se adaptar às mudanças sociais e tecnológicas que vem acontecendo nas últimas décadas.
A expansão exagerada da necessidade de interação humana por meios como redes sociais, a multiplicidade de carreiras profissionais a serem escolhidas, as exigências cada vez mais complexas dos relacionamentos afetivos.
Até a própria prática do lazer com uma tonelada de filmes, seriados ou hobbies a serem escolhidos podem acabar se tornando um fardo para nossa mente.
As projeções irreais de perfis com vidas perfeitas produzidas com pequenos recortes muito bem editados, com filtros fotográficos e ângulos que até alguns anos atras eram prerrogativa de fotógrafos profissionais. Paisagens maravilhosas, celebrações aos momentos de realização que são breves pois a rotina da vida é em sua maioria; feita de luta e trabalho duro. Uma xicara de café ou uma escova de cabelo no salão ganham ares de requinte rotineiro na vida de influencers. Muitos se sentem compelidos a reproduzir esses recortes ficcionais, a maioria acredita ser possível viver assim maior parte do tempo; uma doce e amarga ilusão.
A depressão é complexa, diversa em intensidade e grau de prejuízo na vida de quem sofre da doença. Ela pode ser pontual, resultado de um evento ou uma sequência de desventuras que aquebrantam o espírito. Pode também ser ou não ser uma propensão genética, em abordagem simples, porém válida do ponto de vista psiquiátrico: um mero desequilíbrio químico, a falta de produção ou produção exagerada dos hormônios que controlam nossas emoções, ou mesmo a falta de capacidade do nosso cérebro de absorver tais substâncias.
Muitas vezes, os médicos sabem quais medicamentos prescrever (e com certeza a medicação bem ministrada é valiosa no combate a moléstia), mas a ciência ainda não consegue explicar em diversos casos porque os remédios fazem ou não o efeito desejado.
Voltando ao cristão:
Nessa matéria, estou tentando ser o mais resumido possível, dando ênfase ao recorte do problema no contexto da vida cristã e das comunidades das quais participamos enquanto membros ou frequentadores de igrejas e levando em conta de que legitimamente acreditamos e seguimos a doutrina cristã.
Certa vez ouvi um pastor afirmando que enquanto instituição, as igrejas necessitam de um certo protocolo para lidar com as demandas variadas e individuais dos fiéis, para dar suporte, orientar e delimitar o que deve ser feito nas mais diversas situações. Isso é conduta acertada!
Tenho um amigo cristão que vive nos Estados Unidos a muitos anos, ele me contou que é comum naquele país, que as igrejas possuam pastores ou obreiros especializados nas mais diversas atividades: ensino teológico, administração financeira, pedagogia, louvor e no assunto em questão aconselhamento.
Existem pessoas que possuem aptidão natural para dar suporte a alguém com problemas emocionais, algumas com formação em psicologia ou simples conhecimento empírico, empatia e vocação para essa tarefa, mas também há outros que, mesmo ordenados pastores, merecedores legítimos de seus ofícios, com realizações comprovadas na obra, simplesmente não tem aptidão para lidar com certas situações individuais como um membro da igreja em crise depressiva.
Não se pode esperar que um líder eclesiástico detenha todas essas competências, mas é fundamental que as igrejas busquem disponibilizar pessoas capacitadas para orientação e aconselhamento de maneira imparcial (sem julgamentos ou filtros de conceitos pessoais), contudo, debaixo de oração, preparo espiritual e fé cristã.
A depressão não pode ser taxada como fraqueza de caráter, falta de busca a Deus ou fruto de brechas onde o inimigo está agindo...enfim, é um problema grave e complexo que afeta a vida profissional e familiar de quem sofre a sente na pele (ou melhor na alma), frequentemente traz consigo outras comorbidades e não raro, pode levar a morte.










